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por NSR, Sexta-feira, 13.05.11

http://jugular.blogs.sapo.pt/2643843.html?page=1#comentarios

 

(excertos do acórdão da relação que absolveu um médico, condenado em 1ª instância pela violação de uma paciente grávida, por este ter violado com jeitinho, com certeza)

 

Na verdade, atendendo aos actos materiais que, para esse efeito relevam, temos que:
«O arguido começou a massajar o tórax e os seios da ofendida.
Esta levantou-se do dito divã e sentou-se no sofá. O arguido foi então escrever uma receita. Quando voltou com ela, aproximou-se da ofendida, exibiu-lhe o seu pénis erecto e meteu-lho na boca, para tanto agarrando-lhe a cabeça, enquanto lhe dizia “estou muito excitado” e “vamos, querida, vamos”.
A ofendida levantou-se e tentou dirigir-se para a porta de saída; no entanto, o arguido, aproveitando-se do estado de gravidez avançado que lhe dificultava os movimentos, agarrou-a, virou-a de costas, empurrou-a na direcção do sofá fazendo-a debruçar-se sobre o mesmo, baixou-lhe as calças (de grávida) e introduziu o pénis erecto na vagina até ejacular».
No entendimento da decisão recorrida, os factos “provam uma acção física violenta exercida pelo arguido sobre a ofendida, de modo a constrangê-la quer ao coito oral, quer à cópula”.
Ora, no que respeita ao coito oral, apesar de ter considerado provado que, para lhe introduzir o pénis na boca, o arguido agarrou os cabelos da ofendida, puxando-lhe para trás a cabeça, no enquadramento jurídico da decisão, o tribunal apenas refere que “o arguido introduziu o seu pénis na boca da ofendida, agarrando-lhe a cabeça”.
Ou seja, a versão que o tribunal acabou por considerar ao enquadrar juridicamente a conduta do arguido, coincide, afinal, com a versão acima referida após procedência parcial da impugnação de facto pelo recorrente.
Contudo, não se vislumbra como é possível considerar o acto de agarrar a cabeça como traduzindo o uso de violência de modo a constranger alguém à prática de um acto contra a sua vontade. A não ser que se admitisse que o mero acto de agarrar a cabeça provoca inevitável e automaticamente a abertura da boca.
Se a força física utilizada tem de ser, como atrás se disse, a destinada a vencer uma resistência oferecida ou esperada, o que pode afirmar-se é que, no que respeita ao coito oral, não se provou qualquer tipo de resistência por parte da vítima. Ou, pelo menos, uma resistência que o arguido tivesse tido necessidade de vencer através do uso de violência.
No que respeita à cópula, e considerando a matéria de facto provada, a violência utilizada pelo arguido, na economia da decisão recorrida, reconduz-se ao facto de ter agarrado a ofendida, empurrando-a contra um sofá, referindo ainda que o arguido usou apenas da força necessária para “quebrar” qualquer possibilidade de resistência por parte da ofendida, que o arguido sabia deprimida, pouco defensiva relativamente às suas abordagens anteriores.
Como se disse anteriormente, a violência exigida pelo artº 164º tem de traduzir-se na prática de actos de utilização de força física (como vis absoluta ou como vis compulsiva) contra a pessoa da vítima de modo a constrangê-la a não adoptar qualquer atitude de resistência às intenções do agente ou a vencer a resistência já oferecida. O simples desrespeito pela vontade da ofendida não pode ser qualificado de violência[28].
Ora, os factos provados não permitem concluir que, ao empurrar a ofendida contra o sofá, o arguido visou coarctar-lhe a possibilidade de resistência aos seus intentos ou se, com esse acto pretendeu apenas o arguido concretizar a cópula que, de outra forma não conseguiria, dado o avançado estado de gravidez da vítima – 34 semanas. Para que o empurrão na ofendida integrasse o conceito de violência, visado como elemento objectivo do crime de violação, teria de traduzir um “plus” relativamente à força física normalmente utilizada na prática de um acto sexual (i.e. a vis haut ingrata que acompanha frequentemente ou quase necessariamente o tracto sexual).
(...)
Tudo para concluir que, não se enquadrando os actos praticados pelo arguido na conceito de “violência” que atrás traçámos, será inútil aferir da ausência de vontade ou de consentimento da ofendida, na medida em que o crime de violação previsto no nº 1 do artº 164º do C.P. é um crime de execução vinculada, i. e., tem de ser cometido por meio de violência, ameaça grave ou acto que coloque a vítima em estado de inconsciência ou de impossibilidade de resistir.
Vale dizer, omnicompreensivamente que o agente só comete aquele crime quando a concretização da execução do acto sexual, ainda que tentado, tem de se debater, de alguma forma, com a pessoa da vítima, só então se podendo falar em violação hoc sensu pelo violador, passe a tautologia, pois que “os conceitos de violência física e de veemente intimidação [conceitos do artº 393º do CP de 1886] supõem uma resistência a vencer”[29]

 

Lê-se e não se acredita no acordão "produzido" pelos Meretíssimos: Eduarda Maria de Pinto e Lobo
José Manuel da Silva Castela Rio
.
e, o único que se salva,
José Manuel Baião Papão que votou vencido...e deixou a declaração de voto.
Não há modo de se entender uma coisa destas.

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por NSR às 11:37

A importância das denúncias

por impressoemmeiahora, Segunda-feira, 18.04.11

http://www.estadao.com.br/noticias/geral,pm-prende-aluno-de-medicina-com-drogas-na-grande-sp,707141,0.htm

 

PM prende aluno de medicina com drogas na Grande SP

16 de abril de 2011 | 10h 41

 

RICARDO VALOTA - Agência Estado
 

Três alunos do curso de Medicina da Universidade de Mogi das Cruzes (UMC) foram detidos com drogas, por volta das 21h30 de ontem, na região central de Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo. Eles estavam dentro de um dos três ônibus que seguiam para uma excursão na cidade de Santa Rita do Passa Quatro, no interior paulista, onde ocorre a Intermed - competição esportiva entre estudantes de Medicina de várias universidades.

 

Policiais militares do 17º Batalhão, após receberem uma denúncia, pararam os três ônibus, cada um com pelo menos 40 estudantes, no centro de Mogi. Em um dos veículos, os policiais encontraram parte da droga com dois estudantes, que estavam sentados sobre os entorpecentes. A maior parte das drogas foi localizada dentro da mochila de um terceiro aluno, que assumiu ser o dono da carga.

 

Foram apreendidos no total 21 cápsulas plásticas contendo cocaína, pelo menos cinco frascos de lança-perfume e uma porção de maconha. Como não localizaram drogas nos outros dois ônibus, os policiais liberaram os veículos para viagem. Todos os estudantes do ônibus retido foram para o plantão do 1º Distrito Policial de Mogi, onde o aluno que assumiu ser o dono da droga foi autuado em flagrante por tráfico. Os outros dois universitários foram indiciados e seriam liberados, ficando sob investigação policial.

 

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por impressoemmeiahora às 12:02

Vale Tudo

por NSR, Domingo, 20.02.11

Não, não falo da modalidade de luta muito popular no Brasil, nem do facto de colocarem posts sobre o Sousa Cintra, falo do nosso amigo transmontano Armando Vara.

 

http://www.publico.pt/Sociedade/armando-vara-passou-a-frente-de-utentes-de-centro-de-saude_1481106

 

Armando Vara protagonizou, na passada quinta-feira, um episódio polémico num centro de saúde de Lisboa. O ex-ministro socialista passou à frente dos utentes que aguardavam a sua vez e exigiu a uma médica que lhe passasse um atestado médico, alegando estar com pressa e ter um avião para apanhar, avança a TVI.

 

Perante este cenário, um dos doentes que estava à espera no centro de saúde apresentou uma reclamação. José Francisco Tavares, de 68 anos, reformado e com seis filhos, de acordo com a mesma estação televisiva, dirigiu-se ao centro de saúde com um ataque de sinusite.

Quando chegou, ficou à espera da sua vez, como acontece normalmente nestas situações. Porém, quando Armando Vara chegou ao centro, desrespeitou a ordem de chegada dos doentes e entrou no gabinete da médica.

A médica, surpreendida, - relata a TVI - ainda disse a Armando Vara que o não tinha chamado. “Mas ele respondeu que estava cheio de pressa para apanhar um avião. E a médica que lhe passasse o atestado na hora”, escreve o site da estação de televisão.

A médica acabou por lhe passar o atestado, indica a estação de televisão.

Em declarações à TVI, a directora do centro de saúde, Manuela Peleteiro, explicou o sucedido: “O senhor Armando Vara entrou aí como qualquer utente e passou à frente de toda a gente. Entrou no gabinete da médica sem avisar e sem que a médica percebesse que não estava na sua vez. Foi uma situação de abuso absolutamente inconfundível”.

Armando Vara ainda não se pronunciou acerca deste episódio.

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por NSR às 18:51

There... she said it!

por NSR, Terça-feira, 01.02.11

There she said it...

 

http://economia.publico.pt/noticia/os-gastos-com-a-saude-sao-o-principal-problema-orcamental-de-portugal_1477880

 

 

Teresa Ter-Minassinan, ex-responsável do FMI

Os gastos com a Saúde são o "principal problema orçamental" de Portugal

31.01.2011 - 09:50 Por PÚBLICO

 

Os gastos com a Saúde são, no futuro, “o principal problema orçamental que Portugal enfrenta”, afirma Teresa Ter-Minassian, a antiga chefe de delegação FMI que negociou o empréstimo a Portugal na crise de 1983

 

 

 

Em Lisboa para participar na conferência “Vir o Fundo ou ir ao fundo”, promovida pelo instituto de Direito Económico e Financeiro da Faculdade de Direito de Lisboa, Teresa Ter-Minassian deu uma entrevista ao Jornal de Negócios.

A sua opinião geral é a de que o programa de austeridade do Governo português é bem calibrado e com um bom equilíbrio entre o corte na despesa pública e o aumento dos impostos. As medidas “são muito corajosas”, mas considera que há “ainda algum espaço” para outros ajustamentos, tanto na despesa como na receita.

Na despesa pública e com vista a uma estratégia de médio prazo, “Portugal já fez um ajustamento nas pensões, mas não fez o suficiente na saúde”.

Nas pensões, foi feita uma reforma da Segurança Social em 2006 que, graças à introdução do factor de sustentabilidade (que tem em linha de conta a esperança de vida da população), fará reduzir as pensões até 40 por cento do actual em meados desde século. Mas “ajudaria muito à credibilidade do ajustamento orçamental se o Governo tivesse uma estratégia clara para conter os custos na Saúde no futuro, que são o maior problema orçamental que Portugal enfrenta”.

Teresa Ter-Minassian tem uma boa opinião do ajustamento feito em 1983-84. “Em 1985, a economia já estava a crescer outra vez”, afirma. “Isso quer dizer que 2011 vai ser um ano difícil, mas há uma boa esperança que em 2012 possa haver uma recuperação”. Mas não será um ajustamento fácil. Porque se verificará uma desvalorização do poder de compra dos portugueses. Tal como aconteceu em 1983-84, “creio que nos próximos dois ou três anos há também margem para uma desvalorização”.

A ideia essencial é a de que Portugal precisa de aumentar a sua poupança para permitir ao país crescer a prazo. E isso tanto ao nível do Estado como dos portugueses. “Não será fácil ou agradável para a população, porque uma desvalorização nunca chega sem custos”, afirma ainda. Mas “os que acham que há uma solução mágica que passe pela saída do euro” – e portanto para recuperar a capacidade de gestão cambial – “estão enganados. A desvalorização aumentaria a inflação e empobreceria muito o país, porque muita da dívida está em euros”.

Teresa Ter-Minassian esquiva-se a dar uma opinião directa sobre se Portugal deveria ou não recorrer ao Fundo de Estabilidade Financeira. Acha que “as opções do Governo” representam já “uma grande parte do ajustamento” e que isso é essencial para o sucesso. “Se um Governo está comprometido a fazer um ajustamento, recorrer à ajuda não dever ser um estigma”. E essa ajuda até poderia ajudar a credibilizar o país.

“O problema importante neste momento é convencer os mercados” e “ ter algum dinheiro por trás fortaleceria a posição portuguesa”. Claro que essa negociação “poderiam implicar algum ajustamento de cariz estrutural, mas que o Governo também quer fazer”.

“os mercados querem é ter boas perspectivas de médio e longo prazo. E aí ajuda ter uma estratégia credível de médio prazo”. Porque o principal risco que actualmente Portugal corre é, segundo a economista, que “os mercados entrem em pânico e fechem o financiamento. E o principal ponto negro da actual situação económica do país é que Portugal e os países do sul têm um problema de poupança nacional insuficiente que “tem de ser resolvido independentemente do que acontecer na Alemanha ou em qualquer outro país” que possa funcionar como locomotiva do crescimento económico em Portugal.

Mesmo que tudo esteja a correr bem na Alemanha e nos países do norte, Portugal deveria virar-se para os países emergentes porque é aí que as exportações poderão crescer mais.

Na sua opinião, um plano europeu de relançamento económico não teria muito efeito. “Um grande programa de infra-estruturas teria provavelmente um efeito de muito curto prazo”, sustenta. E depois “o problema é que a Europa não é uma federação e não tem o dinheiro”.

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por NSR às 00:05

Meia Dúzia...

por NSR, Sexta-feira, 28.01.11

 

Carlos Paião... nosso colega...

 

 

 

 

 

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por NSR às 00:54

Qual é a vossa opinião sobre este homem e o seu discurso?

por NSR, Sábado, 29.05.10

http://www.publico.pt/Sociedade/david-servanschreiber-a-minha-saude-e-muito-melhor-do-que-antes-de-ter-tido-cancro_1439607

 

David Servan-Schreiber tem 49 anos e formou-se em Neuropsiquiatria pela Universidade de Pittsburgh, nos EUA. Aos 31 anos, soube que tinha um tumor maligno no cérebro. Mas ainda cá está e diz-se de óptima saúde. Sorte? Nada disso, explicou em duas conferências – uma para médicos, a outra para o público – durante o 3.º Congresso de Medicina Antienvelhecimento, que teve lugar há uma semana, em Cascais.

A luta de Servan-Schreiber contra a doença mortal com a qual convive há 18 anos levou-o a tentar desemaranhar o novelo dos inúmeros estudos científicos sobre o cancro e a tentar dar-lhe sentido, para perceber o que torna umas pessoas mais resistentes ao cancro do que outras. As suas respostas estão no livro Anticancro – Uma nova maneira de viver, editado em Portugal pela Caderno em 2008 e que se tornou um best-seller mundial.

Servan-Schreiber é um divulgador espectacular e convincente. Mas há ainda muita coisa por demonstrar cientificamente nas suas ideias. Até agora, tudo o que afirma baseia-se em estudos epidemiológicos ou em experiências in vitro e em animais. Mas argumenta que as mudanças de estilo de vida que preconiza não podem fazer mal nenhum – e que, se funcionarem, mais vale começar a aplicá-las já do que esperar.

Antes de escrever o livro receou que a sua abordagem desse falsas esperanças a outros doentes com cancro. Mas percebeu que o que acontece é que eles vivem numa situação de “falso desespero”, porque sentem que não têm qualquer controlo sobre a sua doença e a sua vida, e decidiu transmitir-lhes as suas “mensagens de verdadeira esperança”. Como um verdadeiro guru.

Você teve um cancro. Qual é a sua história?
Eu era um jovem médico universitário, cientista, director de um laboratório de estudo das emoções através de imagens do cérebro obtidas por ressonância magnética. Tinha 31 anos e era muito ambicioso. Num fim de tarde, o voluntário que devia submeter-se à experiência desse dia faltou e decidi ser eu a entrar no scanner para o substituir. Foi assim que descobri que tinha um cancro do cérebro. Tive muita sorte, porque o tumor foi apanhado muito cedo e fui operado bastante depressa.

Mas o cancro voltou.
Tudo correu bem até à recaída, há dez anos, em 2000. Dessa vez foi mais grave, porque o tumor era maior e mais agressivo. Tive de ser novamente operado e de fazer quimioterapia e radioterapia.

Foram a cirurgia e os outrostratamentos do cancro que lhe salvaram a vida das duas vezes.
Claro. Mas foi nessa altura que pensei que provavelmente isso não seria sufi ciente: as estatísticas de sobrevivência a este tipo de tumores não são boas. E decidi ver o que eu próprio podia fazer para reforça a capacidade de o meu corpo combater a doença.

No seu livro Anticancro descreve uma série de regras simples de estilo de vida que podem ajudar a combater a proliferação cancerosa. Quais são?
Ter atenção ao que comemos para que, se possível, a comida que ingerimos três vezes ao dia contribua para fazer abrandar a proliferação cancerosa. Como se tomássemos pequenas doses de medicamentos todos os dias. Não têm qualquer efeito tóxico – antes pelo contrário, só trazem benefícios para a saúde.

Também é preciso manter um certo nível de actividade física, pois isso estimula todas as capacidades promotoras da saúde do corpo – e em particular o sistema imunitário e a eliminação pelo organismo das substâncias cancerígenas. Por outro lado, temos de aprender a gerir melhor o nosso stress através de métodos simples de relaxação e de relacionamento com os outros. E, por último, devemos evitar ao máximo os produtos tóxicos cancerígenos.

Ao ler o seu livro, fi camos com a ideia de que ter um cancro para si foi quase uma coisa boa, que melhorou a sua vida.
Sem dúvida. E muitas pessoas que tiveram cancro dizem a mesma coisa – que agradecem ao seu cancro por lhes ter permitido pôr ordem na sua vida. Isso também acontece, aliás, às pessoas que sofreram um enfarte. É uma grande martelada, mas leva muitas pessoas a arrumar as suas vidas. Mas o que mais me espanta é que a minha saúde é muito melhor hoje do que antes de ter tido cancro. O meu estado de saúde é melhor aos 49 anos do que quando tinha 28 ou 29 anos.

Afi rma que assistimos actualmente a uma epidemia de cancro, com maior incidência nos jovens do que no passado. Os médicos estão cientes disto, nomeadamente em relação ao cancro da mama. Quais são as causas desta epidemia?
Uma mistura de factores alteraram completamente o nosso estilo de vida a partir do fim da Segunda Guerra Mundial, em particular nas sociedades da Europa ocidental e da América do Norte. A nossa alimentação foi totalmente transformada, passámos a ter muito menos actividades físicas, as redes sociais e de amizade foram-se degradando – e reduzimos a nossa exposição ao sol (e, portanto, os níveis de vitamina D no organismo). Ao mesmo tempo, começámos a ser expostos a produtos químicos com uma intensidade sem precedentes. Juntos, todos estes factores criam um terreno propício à progressão do cancro no corpo humano. Não diria que provocam forçosamente o cancro, mas criam um terreno propício.

Fala-se muito da predisposição genética para o cancro e fica-se com a ideia de que há pessoas a quem calhou um “mau” número na lotaria genética. Um exemplo disso são os genes BRCA1 e 2, responsáveis pela maioria dos cancros hereditários da mama e do ovário. Mas, na sua opinião, o nosso destino não fica determinado à nascença. Acha mesmo que temos o poder de contrariar essa lotaria?
O que nos dizem estudos recentes é que, se as mulheres que têm mutações nesses genes não fizerem nada de particular, o seu risco de contrair cancro da mama é de 80 por cento. Mas também nos dizem que, quanto maior a quantidade de legumes na alimentação dessas mulheres, mais pequeno o risco.

E isso apesar das mutações: as participantes com mutações nesses genes que comiam as maiores quantidades de vegetais viram o seu risco de cancro da mama reduzido em 73 por cento em relação àquelas que comiam as quantidades mais pequenas. Cerca de 15 por cento dos cancros têm uma componente genética. Mas mesmo quando essa componente existe, os factores ligados ao estilo de vida desempenham um papel importantíssimo, tanto para fazer com que esses genes de cancro se expressem como para impedir a sua expressão.

Na alimentação, o que é que promove o cancro?
Para além do tabaco e do álcool, em primeiro lugar o açúcar e as farinhas brancas. É pena, porque as farinhas brancas são muito apetitosas. Mas no corpo elas transformamse imediatamente em açúcar. Depois temos os óleos de girassol, soja, milho; a carne e os produtos derivados de animais criados com rações à base de soja e de milho (em vez de pastagens). Do lado dos contaminantes químicos, certos pesticidas, certos produtos químicos presentes nos perfumes e nos cosméticos (parabenos e ftalatos), o tetracloroetileno (o solvente da limpeza a seco) ou o bisfenol A (BPA), que é libertado pelos plásticos duros quando são expostos a alimentos ou líquidos quentes.

É uma agressão permanente...
É. Mas isso não quer dizer que todas as pessoas que tenham bebido uma chávena de chá aquecido no microondas numa caneca de plástico duro vão morrer de cancro, porque existem imensos factores que podem compensar esse efeito. Também fazem parte da equação, do equilíbrio, o facto de ser fisicamente activo, de comer com frequência legumes anticancro, de ter bons níveis de vitamina D no organismo e uma rede social de qualidade. São os desequilíbrios que fazem aumentar as probabilidades de o cancro se desenvolver.

Mas, apesar de todas estas mudanças supostamente perigosas de dieta e outras, a esperança de vida – e de vida com qualidade – aumentou nitidamente nas sociedades ocidentais. Isso não é paradoxal?
A esperança de vida que aumentou foi a das pessoas que nasceram antes de 1950. A esperança de vida das crianças que nascem hoje nos Estados Unidos é inferior à dos seus pais. E é a primeira vez na História da humanidade que isso acontece.

Aquilo a que chama alimentos “anticancro” – biológicos, em particular – continuam a ser mais caros do que os outros. Como comer “anticancro” quando se tem uma família para alimentar?
Não é totalmente verdade que os alimentos biológicos sejam muito mais caros. Tem mesmo havido estudos sobre a questão. Mas, sobretudo, é preciso passar para uma alimentação de tipo mediterrânico, com quantidades muito mais pequenas de produtos de origem animal. Basta cortar na quantidade de carne que comemos para poupar dinheiro. Se substituirmos a carne por lentilhas e feijões, garanto que o orçamento alimentar da família diminui. E não somos obrigados a comer apenas alimentos biológicos. É melhor, mas não é vital. Mais vale comer brócolos, mesmo que tenham resíduos de pesticidas, do que não comer brócolos nenhuns.

A carne não é importante para o crescimento das crianças?
As crianças vegetarianas têm um crescimento tão saudável como o das outras. A alimentação tem de fornecer proteínas, mas uma mistura de feijão e de arroz, por exemplo, fornece a mesma quantidade de proteínas que um bife.

Há uns anos, um grande estudo sobre suplementos de betacaroteno revelou-se não só decepcionante mas sugeriu mesmo que os comprimidos de beta-caroteno faziam aumentar a incidência de certos cancros. Por que é que os especialistas insistem neste tipo de estudos se, como já referiu, um único ingrediente não chega para combater o cancro?
A medicina procura sempre extrair um agente activo. O que eu tento mostrar é que isso não faz sentido. O cancro é um desequilíbrio entre inúmeros factores que o promovem e inúmeros factores susceptíveis de o travar. Se pretendermos utilizar apenas um ingrediente, o mais provável é que não observemos qualquer efeito.

Isso também vale para os ómega-3 [gorduras essenciais, contidas nomeadamente no peixe]? Explica que os ómega 3 são gorduras anticancro cruciais, mas sozinhos também não chegam?
Não, não chegam. É óbvio.

E o que é melhor, tomar um comprimido de ómega 3 ou ir buscar o ómega 3 aos alimentos?
Ir buscá-lo aos alimentos. O peixe, por exemplo, que contém muito ómega 3, também tem outras coisas muito úteis, como o selénio, o iodo, para além de ser uma boa fonte de proteína animal sem muitos dos inconvenientes da carne.

Considera o álcool como um agente de cancro, mas o vinho tinto como uma excepção. Mais vale engolir um comprimido de resveratrol [o ingrediente “anticancro” responsável pelos benefícios do vinho tinto], beber vinho tinto ou comer uvas pretas?
Há menos resveratrol nas uvas do que no vinho tinto, porque a fermentação contribui para extrair o resveratrol das uvas. É difícil dar uma resposta, porque a vantagem dos comprimidos é que não contêm álcool. Mas é um facto que um pouco de vinho tinto (mesmo pouco!) parece contribuir para a eliminação do cancro e favorecer a saúde em geral. E não devemos esquecer que o vinho tinto é também benéfico para a saúde cardiovascular. Mas mal ultrapassamos certas doses, verifica-se o efeito contrário: o vinho torna-se promotor do cancro.

Diz que as margarinas que fazem baixar o colesterol contribuíram para fazer aumentar não apenas a incidência do cancro, mas também a das doenças cardiovasculares. Não é o que costumamos ouvir.
Acontece que podemos fazer diminuir o colesterol e ao mesmo tempo aumentar os riscos de doenças cardiovasculares – e é o que este tipo de margarina faz [contém ómega 6, uma outra gordura essencial que, em níveis excessivos, tem sido apontada como promotora de doenças cardiovasculares e de cancro].

A questão do colesterol é muito complexa, mas o nível de colesterol é de facto menos importante do que o equilíbrio ómega 3/ómega 6, porque não temos medicamentos para mudar este equilíbrio – que depende, portanto, unicamente da nossa dieta –, mas temos medicamentos para diminuir o colesterol. Fala-se muito do colesterol e não o sufi ciente do equilíbrio ómega 3/ómega 6.

Se não devemos pôr nem manteiga nem margarina na nossa torrada do pequeno-almoço, o que é que nos resta?
Azeite. É delicioso. Mas comer pão também não é uma grande ideia.

Mesmo pão integral?
O pão integral também não é a melhor escolha, tem de ser multicereais. E, mesmo assim, é muito mais aconselhável comer muesli (ou uma mistura de cereais e frutas) com um iogurte biológico ou de soja. Isso é que contém muitas coisas que vão estimular a saúde do nosso corpo, não o pão.

Só deveríamos comer produtos frescos?
O que é preciso evitar são os chamados ácidos gordos trans – que são gorduras que não ficam rançosas e, por isso, são muito utilizadas na indústria alimentar. Mas isso, toda a gente o diz. E se consumirmos conservas, é melhor escolher as que vêm em boiões de vidro. Também podemos comer alimentos congelados.

Diz que os médicos continuam a transmitir aos seus doentes com cancro uma mensagem de “falso desespero”, ao dizerem que, em termos de estilo de vida, não há muito a fazer. Chegam a dizer que, para tal ou tal cancro, o doente pode continuar a fumar, porque isso não faz grande diferença. É possível mudar essa atitude “derrotista”?
É o que tento fazer. Nas minhas conferências, falo de um estudo que mostra uma redução de 68 por cento do risco de cancro da mama em mulheres que aprenderam a mudar o seu estilo de vida. Mas, mesmo quando há um ensaio como este, ninguém ouviu falar dele. Porquê? Porque ninguém convida os médicos a passar dois dias em Cascais, com todas as suas despesas pagas, para se inteirarem dos benefícios das frutas e dos legumes, do jogging ou das técnicas de relaxação. Há muito pouco dinheiro para fazer estudos quando não há nada que possa resultar numa patente.

Mas é preciso ter em conta que cada um destes elementos, isoladamente, pesa muito pouco na balança. Comer apenas brócolos não trava o cancro. Fazer jogging e mais nada não trava o cancro. É quando começamos a juntar todas estas coisas que obtemos resultados.

Existe uma pressão sobre os médicos por parte dos laboratórios farmacêuticos para não falarem de alterações do estilo de vida?
Não é preciso. Os laboratórios farmacêuticos não têm sequer de mexer um dedo, porque as barreiras que impedem que isto penetre a prática médica são muito efi cazes. Os médicos não recebem mais dinheiro por darem conselhos nutricionais aos seus doentes, antes pelo contrário, uma vez que acabam por passar mais tempo com cada doente.

Considera-se livre do seu cancro hoje?
Não.

E não pensa que, no fundo, teve sobretudo sorte – pelo facto de o seu tumor ter sido operável e de a quimioterapia e a radioterapia terem resultado?
Eu não sou uma experiência científi ca. O que digo no meu livro não se baseia no sucesso ou no fracasso do meu caso pessoal – e ainda bem. Não possuo nenhum método garantido a 100 por cento, não sei o que me irá acontecer daqui a três meses ou três anos. Mas isso não altera a validade do que digo. Tento pôr todas as chances do meu lado, mas em relação ao resto não tenho qualquer controlo. Claro que poderíamos dizer que tive sorte: quando olhamos para as estatísticas, há menos de dois por cento das pessoas com a mesma doença que eu e que estão hoje no mesmo ponto que eu.

O que faz actualmente?
Lancei um programa de investigação com o Centro de Estudo do Cancro MD Anderson de Houston [Universidade do Texas], para testar a minha abordagem através de medições biológicas. Queremos ver como é que as mudanças de estilo de vida modifi cam a natureza do terreno do corpo, fazendo com que as células cancerosas tenham menos hipóteses de proliferar. E estou a trabalhar num livro de receitas de cozinha, com indicações muito precisas em termos de alimentação. É que convém que o resultado seja saboroso.

Dicas
Alguns ingredientes do estilo de vida "anticancro", a consumir em simultâneo

  • Eliminar açúcar e farinhas brancas, promotoras de cancros. Num século, o consumo per capita de açúcares refinados passou de uns quilos por ano para 80 nos EUA, a maior parte dissimulada nos alimentos (uma lata de refrigerante açucarado contém 12 pacotes de açúcar). Substituir por farinhas integrais, arroz integral ou basmati, massa semi-integral, pão multicereais, lentilhas, feijão, chocolate preto, frutos vermelhos.


  • Restabelecer o equilíbrio ómega 3/ómega 6, gorduras essenciais que o organismo só pode ir buscar aos alimentos. No Ocidente, os óleos alimentares industriais e a mudança de alimentação do gado levaram a um excesso de ómega 6, promotor da proliferação celular e da inflamação (que o ómega 3 inibe). Alimentos que promovem o equilíbrio: carne, ovos e lacticínios "bio", leite e iogurtes de soja, azeite. Alimentos ricos em ómega 3: óleo de linhaça, sardinhas e atum (em azeite quando são de lata), salmão, etc.


  • Consumir muita fruta e legumes evitando os pesticidas. Servan-Schreiber prefere fruta e legumes "bio" no caso dos frutos vermelhos, uvas, pepinos, aipo, espinafres, feijão-verde, courgettes, etc. (se não forem "bio", podem ser lavados ou descascados para diminuir os resíduos). Brócolos, couves, tomates, cebolas, beringelas, ervilhas, abacates, mangas, ameixas, etc. estão menos contaminados. Certos frutos e legumes poderão ter uma acção anticancro específica (e variável conforme o cancro). O chá verde e o vinho tinto (um copo por dia) também. Convém ainda banir certos produtos cosméticos, arejar as peças de roupa após limpeza a seco, não aquecer os alimentos em recipientes de plástico duro e não beber água da torneira nas zonas de agricultura intensiva.


  • Saber pedir ajuda e gerir o stress. As redes de amizade deterioraram-se, pelo menos nos EUA, porque a mobilidade das pessoas aumentou. Os doentes com cancro que têm amigos chegados e maior apoio psicológico parecem, segundo alguns estudos, resistir melhor à doença. E diversas técnicas de relaxação permitem gerir o stress. O stress em si, explica o médico, não é responsável pela diminuição das defesas imunitárias; é-o indirectamente pela maneira como lidamos com ele. O mais prejudicial é o sentimento de impotência, de perda de controlo sobre a sua própria vida.


  • Manter bons níveis de vitamina D e evitar a sedentariedade. As pessoas trabalham muito menos no exterior, o que fez diminuir a actividade física e, nas regiões com pouco sol, dos níveis de vitamina D - vitamina que, explica Servan-Schreiber, tem uma acção anticancro. Muitos especialistas já aconselham andar a pé 30 minutos por dia, seis dias por semana. E, para compensar o défice em vitamina D, pode-se apanhar mais sol, tomar suplementos vitamínicos ou mesmo... engolir de vez em quando uma colher de óleo de fígado de bacalhau.
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    por NSR às 19:59


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